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Sentindo as entranhas

  • relyjae
  • 6 de jun. de 2021
  • 2 min de leitura

Atualizado: 28 de abr. de 2022

Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia.

William Shakespeare

 

Ao subir uma ladeira, no centro histórico de Gênova, aconteceu o fato. Estávamos de passagem pela cidade para uma rápida visita, antes de seguir viagem pela costa italiana. Tínhamos recém passeado pela área portuária, toda revitalizada, uma obra fantástica. Subimos no Il Bigo, um elevador panorâmico que gira 360° para apreciar a cidade e seu entorno. Linda vista!


Meu filho, que já conhecia Gênova, falou:

— Mãe, tu não podes sair daqui antes de, pelo menos, subir uma das ruelas pra sentir o clima da cidade do teu bisavô. Mesmo que pretendas voltar outra vez.


E lá fomos nós, eu, meu marido e os dois filhos. Atravessamos a larga Via Aurelia, que separa o porto do centro histórico, chegando na ampla Piazza Caricamento. Caminhamos sob os famosos pórticos da Via Sottoripa, depois escolhemos uma, entre tantas ladeiras. Subimos admirando o casario antigo, os pavimentos de pedra, vielas estreitas se abrindo em outras mais largas, fontes, os passantes, sons e cheiros locais. Uma visão que nos remetia ao passado e esplendor daquela que foi uma cidade polo no litoral mediterrâneo. De seu porto, saiu a maior parte da emigração italiana para o mundo.


Lá pelas tantas, tocada pelo cenário, eu falei:

— Uau, estou sentindo minhas entranhas! Uns arrepios e um frio no estômago...

— Não vai me dizer que estás com dor de barriga logo agora?!? — disse meu filho em tom jocoso — sabes que achar um banheiro por aqui é tarefa impossível.

— Estou falando sério! Acho que era por aqui que meus antepassados viviam.

Neste meio tempo, vimos logo mais à frente, uma placa indicativa: “Museo Casa Mazzini”. Todos se entreolharam incrédulos. Meu bisavô, David, era da família Mazzini, a qual teve um antepassado famoso, Giuseppe Mazzini, unificador da Itália, de quem aquele museu se tratava.

— Viram! Eu disse que senti algo estranho, antes mesmo de ver a placa.

— Bah, era só o que me faltava, fui escolher logo esta rua – disse meu filho.

— Pois é, e não foi por acaso, com certeza fomos atraídos para cá. Cose dall'Aldilà. Certo que os outros parentes moravam por aqui. Eram vizinhos!


Com uma sensação de déjà vu, lágrimas brotaram dos meus olhos. Os filhos então me abraçaram. Estávamos assim, os três enlaçados em silêncio, quando chegou meu marido que tinha ficado pra trás tirando fotos:

— Ué, o que foi que eu perdi desta vez!? Outro ataque de Síndrome de Stendhal*?

 

*Síndrome de Stendhal, se refere à sensação de êxtase ao ver obras de arte, que leva à emoção. Nome dado por causa do escritor francês, Stendhal, que ficou tão impressionado com os afrescos de Giotto na Basílica de Santa Cruz, em Florença, que teve alucinações e passou mal. Escrevi uma crônica aqui no blog sobre isso. A Itália é propícia pela quantidade de arte e arquitetura e eu já vinha me emocionando ao vê-las...



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