Reunião de família a moda antiga
- relyjae
- 19 de jul. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 24 de jul. de 2024

Coisa boa quando a gente era criança e aconteciam as reuniões de família. Aquela “aglomeração” que hoje estamos proibidos de fazer em função do coronavírus. Antigamente as famílias eram bem maiores, com muitos filhos, netos e bisnetos. Portanto tínhamos mais tios, tias e primos. Hoje os casais não querem ter mais de um ou dois filhos, ou até nenhum. As festas familiares diminuíram de tamanho e já não tem a mesma graça. A ocasião e o motivo variavam desde festanças, almoços, jantares ou um simples café da tarde. O importante era confraternizar. Os adultos ficavam reunidos conversando numa sala, enquanto a criançada ficava brincando pela casa, pátio ou jardim. Mas a gurizada também gostava de bisbilhotar a roda dos adultos, escutando as conversas. Quando iam falar algo mais picante ou secreto, os grandes davam uma olhadinha pra ver se os pequenos estavam na volta. Uma das tias dava o alerta: “as antenas estão ligadas!” E criança é assim mesmo, está ali brincando, parecendo distraída e quando surge um assunto interessante, esticam as anteninhas. Depois entregam tudo na maior ingenuidade.

Eram momentos de muita diversão, de conversas acaloradas, boas risadas e até pintavam umas briguinhas lá de vez em quando. Qual família não as tem, não é mesmo? E tinham coisas folclóricas, como o tio que depois de algumas doses de uísque declamava em francês: Baudelaire era o seu preferido. Todo mundo parava para escutá-lo. Eu achava tão bacana que acabei comprando uma coleção de “Como falar francês”: uma caixa com livros e discos de vinil. Também havia o famoso “gabinete das tias”, apelido dado pelo marido de uma delas. Na verdade, era o banheiro, onde elas entravam em grupo pra fofocar e fumar. Assunto nunca faltava, afinal eram nove irmãs sempre cheias de novidades. Uma das tias quando construiu sua casa nova, nos tempos do telefone fixo, fez uma “cabine telefônica” toda forrada em madeira pra se fechar e conversar com as manas sem interferência. Era um sonho de consumo na época. Não tinha WhatsApp nem chamadas por vídeo e o aparelho telefônico era o protagonista. Inclusive fazia parte da decoração de ambientes com modelos estilosos.

Depois de alguns contratempos e conversas vazadas em que a gurizada entregou o ouro ao bandido, as tias desenvolveram uma linguagem em código: a “Língua do Ferri”. Falavam com tal desenvoltura e rapidez que nos vimos loucos sem entender nada. Tuferri saferribiaferri queferri aferri fuferrilaferrinaferri seferri seferripaferri rouferri? A conversa corria leve e solta sem preocupação com os pequenos espiões agora frustrados. Assim se viram livres das antenas ligadas, não por muito tempo. Nós acionamos os nossos "técnicos” e não sossegamos até decifrar o enigma. Demoramos um pouco, mas de tanto prestar atenção, um dos primos mais crescidos conseguiu descobrir tudo. Primeiro ele nos deixou sofrer um pouquinho dizendo que não ia contar, logo depois estávamos todos dominando a “Língua do Ferri”. Na verdade, naqueles tempos existiam variações deste tipo de linguagem mudando a palavra acrescentada. A nossa era exclusiva, bastava acrescentar "ferri" após cada sílaba falada. Por exemplo, beleza, seria “beferrileferrizaferri”. Bem simples, porém falando rápido era difícil de entender. Para uma criança era algo mágico e sua descoberta, um grande feito. Que alegria, quando depois de um pouco de prática na escuta, começamos a entender as conversas novamente. E entre nós veio o desafio de aprender a falar com fluência. Combinamos de não dizer a elas que já sabíamos o código. Coisa que também não durou muito, sempre tem uma “boca frouxa” que acaba contando. Foi bom enquanto durou e virou uma boa e eterna lembrança familiar.
Eferri viferrivaferri aferri viferridaferri emferri faferrimíferriliaferri!

Certíssimo! Obrigada! 😀
Queferri deferriliferriciaferri deferri texferritoferri. Acertei?
Oi, obrigada pelo carinho!! Vais conseguir sim, no início é pouco confuso, mas é só escolher pelo título pra ler. Bjo
Gininha querida ! Adoro tuas crônicas, mas confesso : tenho tido muita dificuldade de navegar em tua revista, afinal tenho 79 anos, o que aliás não é desculpa; pois tem muitas Marlenes por aí, né? Infelizmente não sou uma delas, mas estou melhorando.
Não curti tuas primeiras crônicas, pq tinha perdido a senha agora achei-me começarei a curtí-las Muito sucesso e😘😍